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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Janela de Johari

Nasce Ele, soberbo rei da natureza singela
Abrindo sem mistérios as janelas do tempo, da vida
Com seus raios, desmortalha a paisagem cinza
Os matizes das flores e folhagens é visão divina
anunciam mais uma desconhecida primavera,
do alto do morro me sinto uma pequena águia
vendo de cima pessoas, automóveis deslocando-se na auto estrada,
imensa lagoa dos Barros, Litoral, eles vão para a selva de pedra e seus arranha céus cimentados
correm apressados para o formigueiro, o alvoroço da Salgado Filho, a barulheira da Duque de Caxias..., diversão, esquecer as frustrações, comprar sonhos, e após retornam renovados ou vazios, quem saberá dizer?
E eu que faço aqui, nesta estrada de chão batido, nem mesmo sei quem sou ...
Sigo as veias do riacho pedregoso, hoje quero somente o barulho da mata Atlântica ,
tão devastada pela insanidade e pela ambição, desse desconhecido chamado ser humano...
Aqui me sinto caipira, sem sombras e armaduras, meu “eu público” desaparece, foge receoso para não ver a verdade, poucos me decifram e eu pouco a pouco me descubro.
É um prazer passear no campo, parar no velho armazém, tomar uma água gelada do poço, ouvir as toscas conversas dos velhos colonos, aprender a felicidade e a simplicidade do bem viver, tudo tão calmo, tão azul, tão lilás
Ouço mais longe, zum, zuumm , zum... são as abelhas nas flores das pitangueiras, o perfume suave rescende pelo ar, me contagia, os cheiros nos fazem ir além deste mundo
Tem um taquaral numa encruzilhada perto das antenas, que faz um barulho gostoso quando sopra o vento, há uma pedra  redonda e grande, lá fico sentada por alguns minutos refletindo, quantas vidas já vivi em uma só vida, são as etapas ,os altos e baixos da existência, cheia de aprendizados, a maioria doloridos, marcados a ferro quente, outros tão sutis que quando percebemos já transpomos os portais.
Quantos entes já enterrei, me lembro  de todos(as), sinto o cheiro da minha avó, das bolachas caseiras, um dia serei avó e meus netos também passarão por isso? Não sei...
Sigo caminhando na estrada, tão silenciosa, até tirei os calçados, quero sentir a terra nos  meus pés , agora neste momento, somente o canto dos pássaros me acolhe é minha melodia aqui no interior.
Penso, os anos se passam, já vi tantas carapuças voarem ,apenas com um sopro da brisa inesperada, deixando as falsas ovelhas com caras de lobos, também presenciei tantos demônios transformarem-se em santos. 
Não me canso de converter demônios, os meus demônios...
Preciso seguir, ir muito mais além, transpor a encruzilhada, o caminho eu já escolhi e arco com as consequências...
Subo a encosta da montanha, o sol clareia parte da lagoa, ela lê sem censuras o meu íntimo, minhas alegrias, tristezas, paixões, derrotas e conquistas, minhas lágrimas e risos...
Aqui abraço minhas sombras mais terríveis, como um hierofante das causas impossíveis, milagres já os presenciei, nessas minhas andanças...
Tento fugir dos vícios malditos, da malícia que cega, das bebidas funestas, névoas ilusórias, ou seja, qual o nome que se queira dar as paixões carnais que se dissipam apressadamente e deixam cicatrizes na alma.
vim aqui hoje fazer minha colheita, levo deste lugar abençoado muita paz, harmonia e esperança de saber e sentir que apesar de tudo, não me arrependo de minhas escolhas.
E a cada estação que sigo, me conheço um pouco mais, vivendo o presente, ora com medo, ora com coragem, depende do dia, da hora, do estado de espírito...
Conheço os outros, mais do que a mim mesma, eu acho, pois há muitos universos em uma só pessoa.
E aqueles que amei ou ainda amo...e por algum motivo houve afastamento, deixo aqui minha mensagem: este nosso mundo é breve, haverão ainda outros encontros, fora deste Planeta, se for necessário, só sei que o tempo ameniza as dores e nos fortalece fazendo compreender todos os porquês e as dúvidas.
( Leitores: Fazia muito tempo que eu não conseguia mais escrever...voltou a inspiração, até quando não sei... )

(“Janela de Johari - “Numa relação recente, quando dois interlocutores (duas janelas), iniciam o seu primeiro contato, a interação apresenta áreas livres muito reduzidas, áreas cegas relativamente grandes, áreas secretas igualmente extensas e obviamente áreas inconscientes intactas”)


Taís Mariano - Bruma Lilás

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