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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Divino aborto

Após gestar por alguns anos
Eis que é expelida a ilusão
pelo necessário aborto divino
nos últimos meses agonizava,
já em estágio terminal
ilusão estrangulada
num útero enfraquecido pela verdade
luz tênue da lamparina à querosene
O reinado findo do último rei de eugnas
das tradições do caminho da mão esquerda
sem trono e súditos, avessas promessas
um discurso forçado, despedida...
escrito em letras de sangue (ou eugnas)
rasgou-se o pergaminho, sem novos testamentos
O circo das aberrações afundou-se na lama
por força da conspiração da luz misteriosa
A alma cansada da tirania
emigra enferma... devagar  para a luz
A passagem árdua foi feita com muita dor
até chegar ofegante ao outro lado...
rastejando para as fontes multicoloridas
A noite cai, na madrugada fria,
bem próximo ao umbral
o mensageiro leva a notícia
Falência múltipla do eugnas,
rei  desmascarado, obrigado a partir em retirada
pequena carta, narrando o duelo e o exílio do algoz
da loucura à lucidez, fim do martírio do sal
Vento soprando em fortes tons de esperança
Liberdade celibatária, navegando em alto mar
Cegada pela luz divina, até alcançar a terra
Feridas clandestinas à espera de cura
Desencantamento, tristeza, espanto, queimor
Suores e febres contínuas
A doença materializada como antídoto do mal
e a torrente de sangue derramada,
contida depois, cessada pelo horizonte de possibilidades
A paz discreta e silenciosa da divisa  desconhecida
O outro lado, um sacerdote da época remota
O estágio inicial do renascer da mais pura intimidade
Desnudada, florescida na verdade pelo sagrado sofrimento ,
despida do medo desprezível, que agora habita o eterno limbo,
Flor prematura, salva, dançando a felicidade
entre raízes e troncos, no vibrante marrom castanho, da terra mãe
vastas fileiras de plátanos e araucárias, longe do oceano azul
falso azul que ofuscou o verde esmeralda dos morros, tão próximos...
A bênção do atual destino inexorável, perto do guardião da vida e do bem
Acolhida pelo amor dos desconhecidos pássaros selvagens
deitada em brancos lençóis, sentindo o perfume da brisa etérea
no crepúsculo de um novo mundo ... 

“Fiat voluntas tua
ed liberanos a malo”
Minha doença ... foi minha cura ...   Taís Mariano

  
    

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