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quarta-feira, 2 de março de 2016

Um velho farol

 Passam os dias e as semanas escorrem entre meus dedos, só vejo os pássaros e os peixes, o sol, a lua, o vento e a chuva.

Entra ano e sai ano e eu aqui no farol, resistindo ao tempo e a solidão.

Isolamento e introspecção, meu monólogo no farol não tem fim.

Ao entardecer, com o passar dos minutos o sol vai se escondendo e a paisagem fica bucólica. Ao anoitecer o farol é acesso, a forte luz que sai dele orienta alguns navegantes que por aqui cruzam.

A monotonia toma conta do ambiente, visitas aqui são raras, principalmente no fim do outono e chegada do inverno...amanhece...escurece....amanhece...

Há dias, principalmente os nublados e ventosos que ouço vozes, o mar cinza esverdeado mostra-se agitado, então consigo ver muitas sombras nas paredes do velho farol, quantos rostos e pinturas ainda inacabados.

Durante o dia, mesmo com o frio e as brumas, caminho muito, mas o segredo para não cansar é observar a natureza, cantar, pensar, escrever e desenhar, converso com a fauna, a flora e com o farol que um dia me acolheu e me acolhe.

Sobriedade e quietude são imagens do inverno daqui, me acostumei com essa atmosfera de solidão que se desfaz em calma e muita paz.

No verão alguns estrangeiros aportam por aqui, porém permanecem por pouco tempo, pois talvez não suportem a solidão e as vozes das marés à noite, aqui eles não tem muito o que fazer, a não ser observar e compreender a natureza e a si mesmos...

Quando vem a tempestade, o mar assusta e algumas embarcações se perdem e encostam aqui, apenas para tomar um fôlego e logo estão de partida...

O farol não é um porto de embarque e desembarque, mas atrai navegadores e impõe respeito aos que não estão acostumados com a sua altivez, com a bravura do oceano e as vozes da natureza.

Aprendi a meditar lendo e relendo o lento caminhar das tartarugas ou compreendendo o ágil voo das aves daqui, são minhas companhias do dia.

De todos esses anos que estou aqui, posso afirmar que APRENDI A FALAR A LINGUAGEM DOS PÁSSAROS E A SENTIR A REBELDIA DAS ONDAS DO OCEANO.

É quase impossível imaginar, porém, quando cheguei aqui, tinham pessoas me esperando para que eu ocupasse seus lugares e eles pudessem seguir, e outras que vieram ficaram pouco tempo comigo aqui no farol, foram em outros tempos..se se foram, pelo menos tentaram ...

Desde menina conheço o farol, quando no verão às vezes vínhamos de longe eu, meus pais e meus irmãos para uma pequena temporada, e os ventos do destino sopraram e me trouxeram para cá novamente, dessa vez para ficar e entender o farol e tudo que o cerca, então soube ( sempre soube) que eu pertenço a esse lugar e que ele me pertence, e que aqui tem tudo o que eu preciso...Não é comodidade e sim paz de espírito, aqui eu me encontrei .


 

Velho farol


Tua luz é projetada ao longe

Amortecendo a escuridão

Tua escuridão

Minha escuridão

A escuridão do mundo

O mar furioso

Acoita as tuas paredes

Em noites de tempestade

Ouço teus gritos

Entre fluxos e refluxos

Das ondas prateadas

Quantos naufrágios

Presenciamos

E quantas embarcações

Orientamos a direção

Não tememos o mar

Sabemos que não existe solidão

Que o silêncio tem voz

Aliás muitas vozes...

Ilumina distâncias

Sem temer o desconhecido


Seria o farol um alquimista?

Aprendi com ele a criar luz

E propagá-la ao longe

Arrebatando as trevas

Resgatando corações

Já sem esperanças do viver

Sou luz que navega pelas ondas

Invade as furnas e montes

Pequenos raios viajam

Aquecendo e soprando vida

Surpreendendo sombras esquecidas

Salvando almas...

Foi o farol quem me ensinou...   


Taís Mariano

 

Quinto Arcano

Luz de hierofante
Conduz-me aos teus castanhos
Olhos da maturidade, que refrigera
meu horizonte esverdeado
revelando a ponte que nos liga
com a quintessência da iluminação
És o quinto arcano
A sombra prateada, larga e macia
Que habita meus pensamentos, hoje
O mediador da paz curativa
Que destila o  elemento alquímico na terra
Acariciou minha alma  cansada
Emanando a força sutil
que cristalizou corpo e espírito
equilíbrio  das incertezas
pela dor...um verdadeiro amor
Não sustentaremos esse sentimento...
apenas com versos  e névoas de  ilusão
as letras de sangue estão coaguladas
atrofiaram-se os rituais de imposição
de um passado insípido
A certeza da  descoberta
A suavidade instalou-se
no tempo presente
nas mais puras emoções
desabrochadas naquele instante atemporal
Meu nome refletido em teus olhos
Caminha pelas tuas mãos
Percorre teus  longos dedos, tua ação
Teu nome desliza em minhas veias
Queimando de emoção
Mãos de hierofante falando mais que
mil palavras do tolo passado
Não preciso mais fechar os olhos
para sonhar... encontrei a direção
Com a  cura, os sofrimentos sucumbiram
Os grilhões arrebentaram pelo divino aborto
A morte de  um pretérito imperfeito
composto de períodos de mentiras
Percebo a felicidade na simplicidade
No hierofante , meu quinto arcano

Depois de uma forte dor,
de desespero e  escuridão
Chega o alívio inesperado
Compreendo que a cruz que carreguei
tratava-se de uma antena cósmica
que iria me conectar  com a verdadeira cura
A presença de  um quinto arcano...



























Sono de dezembro II

Dorme meu pássaro azul
Neste litoral    agora obscuro
Mais um sono de dezembro
Embriagado pelos sons das águas
Profundamente    perdido nos seus fios
de seda e solidão cinza,    grudados aos meus...
Que já regressei    e estou a lhe vigiar
Novamente vago pelas suas ruas turvas de sal
Na escura noite ouço...seus sussurros, seus ais
Entre o cimento e a areia, machuco meus pés
Me violento para chegar no seu ...breu
Seus vidros embaçados e um leve risco de luz
que a lua da sua orla... sustenta quase anêmica
Sonha seu íntimo desejo
na  impossibilidade do momento ...
Que as chuvas de março... cairão antes
m milagre está por nascer...
no cochilo descuidado    dos covardes e das    mariposas...
algumas palavras naufragadas,
nossas    gargantas apertaram
são espumas    sangrentas do mar agitado
Furtaram as horas... de nossos    corpos,
A alma se esconde e    arde em chamas...
Nossos anseios    jamais serão    castrados   
Meus, seus inesperados disfarces
Navegantes    na correnteza    inconscientemente
Repetições que se dão    no    caos momentâneo,
Para a quebra definitiva...desses sórdidos efeitos ...      
vejo    imortais semblantes...    transparentes
seus lençóis    amarrotados    pelo    temor    guardado
panos    pesados congelam ... no calor da    estação
algumas noites estarei    nesse lugar , meu senhor,    prometo
fazendo evaporar suas lágrimas azuis,    únicas...
contando as noites... para o seu acordar,
Dorme meu segredo ,minha quimera
Dorme meu pássaro azul...
Mais um sono de dezembro...

   Segredo azul...uma vez você disse sorrindo:
“deixe o pássaro azul voar e observe, vai e vem, vem e vai ... e “ele- pássaro” sempre retorna, pois...
Sopram segredos nas brumas...que não estão mais tão ocultos...
Dorme mais um sono de dezembro...    meu pássaro azul...























SONO DE DEZEMBRO I . . .
Alamedas escuras
ruas turvas
cobertas de areia
lavadas de suor
pálido medo
prédios inacabados...anêmicos
minh’alma errante
não quer descansar
caminha tateando os cordões e muros
escuridão sem destino
clarão no céu
lua cheia invade a noite
reflexos de luz nas poças d’água
farejo teu cheiro no ar...
forte maresia
almiscaradas madeiras
aproximo-me da tua janela
entreaberta para as brisas
aqui fora...o silêncio,as brumas
te descubro...entorpecido pelos sonhos...
adormecido entre os lençóis cremosos
madrugada desperta
nuvens preguiçosas encobrem o céu
penumbra ...
espio teu sono...profundo
embalado pela suavidade...
do vento que desperta
minha sombra nos pilares acinzentados,
sussurra que é hora de partir
o tempo passou depressa
o sol já vai nascer..

Taís  Mariano - Bruma Lilás

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Desenho do adeus


Súbito despertar
silêncio sacudido
estranheza no denso ar
janela aberta
vento, cortinas onduladas
chuva forte, tempestade
o som do trovão
impulsividade
um raio de desespero
a cortar o peito
rastros de sangue
calafrios
tua misteriosa partida ...


Taís Mariano

Embargo

Olhares sigilosos
furtivos
algumas borboletas amarelas
estado terminal
fim de linha
carretel vazio
pés no piso azulado
dando voltas sem rumo
pavilhões da noite
embargo na voz
amortecimento, morte
 
Taís Mariano - 2016

Silêncio por favor !  Solidão necessária.

Tem muita gente ao meu redor
Sufocando meus espaços
Vida barulhenta, enjoo nas multidões
Ilusões, são os arautos errantes
Falando sem parar,
lavando os cérebros do povo
Meus ouvidos doem, são muitos seres
Tramando, fingindo, matando,
e uns ...adulando os egos (ridículo)
Cansei dos gritos, das buzinas,
o burburinho, o som
Almejo o silêncio da noite no espaço
Que me levará  de volta ...
para o reencontro com meu ser consciente
então conseguirei sentir a paz dos monges
os murmúrios das minhas memórias escondidas
A boca do mundo a calar-se diante da leve atmosfera
Por algum tempo ficarei a sós com o universo
E no último instante olharei o mundo
Através de uma janela (de  johari ...)
Percebendo que ele se consume na doença da ambição
No câncer do crime enraizado, na corrupção desmedida
E vou sussurrar para quem quiser ouvir :

Solidão necessária!
Preciso reencontrar a vida!
 Silêncio, por favor!

Taís Mariano


Uma Veneza para Milie Aldrey

Dança Aldrey no balanço da gôndola escura
Antes que os outros descubram teu paradeiro
Sejas feliz com tuas  máscaras em preto e branco,
se  ainda conseguires...
A praça  San Marco e um dos castelos do Gran Canale,já não são...
Nunca mais foram os mesmos, sem os olhos anilados do pierrô
que sempre se disfarçava de  arlequim ...
O voo do anjo na praça deu início ao carnaval e ,
Ele não tem mais cor, nem sabor, nem  sonhos
Pois - aquele homem, lá não está mais,
Sumiu, voou no ar com o anjo, ou afogou-se em outras águas
Aldrey tateia agora nas colunas do imenso salão pintado de dourado e azul
Corre na direção contrária e dança por dançar
Sem os seus desejos e ritmos,  envolta em véus,
enche suas  máscara de lágrimas
Grita Milie: Quero minha Veneza de volta !  
Meu amor iludido, perdeu-se entre as folhas escritas na praça
Poemas alaranjados de uma paisagem bucólica
Letras que caem e formam um tapete de esperanças
Pobre Milie, deixou-o escapar,
por medo de  sua máscara cair e seu disfarce ...
ser absorvido pela vil realidade
Volta Veneziano, Milie Aldrey está a morrer !
Não há paixão  maior (sofrimento) do que aquela que se foi
Foi deixada a margem ...do outro lado da ponte
Matizes e anseios, teu medo te corrompeu
e te levou de volta ao calabouço, veneziano
Dois covardes, numa Veneza mascarada
Fugindo de si mesmos, a vida,com receios de perder
Já estão mortos por esconderem-se
Vem veneziano
Vem recriar uma Veneza para Milie Aldrey


Taís Mariano - 2015


Poeira

Olhava  a terra vermelha
Lamacenta e pesada
Atrofiava minha caminhada
Precisava te encontrar
Já havia passado por ti, estavas coberto de terra
não te reconheci
fiquei assim...vagando  pelos montes
atolada em pensamentos
o vento trouxe na poeira
tuas silhuetas, restos de lembranças
vestígios do teu cheiro, amadeirado
ainda  que empoeirado, senti  ...
teus olhos refletiam  nas poças d’água
azul cobalto, um céu prestes a chorar
na umidade e no calor do tempo
naqueles segundos antes da chuva
eu ainda conseguia fazer da dor um poema
 transformando o instante infeliz
em versos empoeirados de vida
 17/08/2015
N O S T A L G I A






















Quando na orla azul noite  eu existo
Todos se aborrecem, e adormecem...
Chega a hora tardia, silêncio ele está manifestado
São três horas da madrugada, todos relógios param
De joelhos , ao relento, nas pedras recito a última prece
A lua que guarda os grimórios...
beija a face do misterioso oceano.
O vento leva para longe algumas trevas, poucas
Na estrada estreita de areia, apagam-se as pegadas
As ondas fogosas, num vaivém , deslizam sobre os rochedos
A tristeza vai de encontro as furnas da saudade velada e profana
Noites de lembranças, a paixão rouba nossas almas
No horizonte o céu vai se abrindo
O mar esverdeando, o dia raiando
Gaivotas surgem num voo sonâmbulo
Mais um dia de vida para esquecer a nostalgia da noite ...
rios ...  beija a face do misterioso oceano
14/08/2015 - Taís Mariano
Me deixa



















Me deixa ser sua crença
Saber do seu ser, do seu saber
Me deixa voltar na antepenúltima atmosfera
em  nosso tempo, para que eu possa retirar os véus
Minhas máscaras, suas máscaras
Medos disfarçados de lucidez...
desfizeram nossos sonhos, desfizemos
Ceifaram nossos desejos, ceifamos
Me deixa andar pelos seus campos
Para que eu possa novamente colher seus olhares
Retalhos e tesouras de prazeres e risos
As linhas de nossas mãos entrelaçadas
Me deixa correr ao lado da vida para seus braços,
Nossos abraços longos, lentos . . .
Me deixa...pela última vez
A última safra de um amor silencioso
Amor temido, eu temia, você temia
Me deixa sentir sua alma,
Minhas esperanças adormeceram ...
com o pranto das noites em claro
Pereci tentando encontrar você, em vão
Minha sensatez foi revestida de covardia
Me deixa sonhar com você
Até que renascerei nos seus desejos mais secretos
Numa realidade menos cruel
Me deixa . . .    
sem culpas do amanhã
07/08/2015 - Taís Mariano
Legi Anestesi

Penetramos no passado
Desdobramos as imensas orelhas...
Livros encadernados, amarelados
parcialmente comido pelas traças
Tempo transcorrido
marcado pela destruição
As velhas obsessões se chocam sempre
com a pequena sanidade na penumbra do espaço
O mapa psíquico de alguns livros resistem...
abordando com maestria frase por frase de suas histórias, relíquias
entre realidades paralelas, sentimos o mofo e o cheiro das velas - morte.
Parece real, fantasmas perambulam pela imensa biblioteca
Caminham por todos os lados nos corredores a procura de atenção
São personagens dos livros esquecidos nas prateleiras empoeiradas
Eles estão aprisionados e infestados de baratas e aranhas.
A esfera física do local está
Não há interesse em preservar
não há mais vontade de aprender
Nossos ancestrais são entregues ao esquecimento
contaminada por parasitas
e posteriormente ao desespero e a lenta morte triste,
inevitável e silenciosa .

Taís MAriano - 2015

GRITA !!!!

Pátria amada
pobre, pisoteada e magoada
o celeiro da exploração
Precisava tanto de sol
as esperanças foram turvadas
O sonho verde não realizado
destruído pelos falsos verbos
profetizados nos palcos da ilusão
Barganham com o diabo,
leiloam o vento e a chuva,
matam os miseráveis de sede
valores em inversão, podridão
grita povo, grita pátria !
ainda há tempo de lutar
Nunca é tarde para mudar
Grita Pátria amada BRASIL !!!!!!!!

A força vem da voz das multidões ...
.
Taís Mariano - 2015

Meu eterno amor, eu sou sua imperatriz...


Nossa  ponderação fez sempre a amizade e o amor brotar, ano após ano
Vencemos nossos medos, vigiamos nossos verbos
Cuidei do jardim, abstrai da alma inquieta, as ervas daninhas

Acalmei as linhas furiosas do tempo caprichoso
Foram muitas lições e segredos  para os dois
Sofri ao te mandar embora, ano passado
Foi preciso, coisas do meu tempo febril, precisávamos crescer
e fortalecer o nosso sentimento...
Contudo teus olhos azuis , teus beijos ,permaneceram em mim
Próximo a poucos quilômetros de minha tenda, você

O velho refrão de todos esses anos se fez mais forte:
Vem logo, amor,   solidão, tristeza, lágrimas, saudade , amor, meu amor
Foi preciso quebrar os vasos , hoje estamos reconstruídos, fortes
Somos novos cântaros de temperança , refeitos de luz e discernimento
Cada vez mais próximos e sempre apaixonados, nada muda, cada vez se aperfeiçoa mais
Estou voando feliz, vá voar meu pássaro azul, que eu lhe encontro na plataforma...
bem perto da arrebentação onde nosso amor iniciou
Com muito sol e ventania , ondas lindas e claras
Vislumbro que o “ poço”  ainda está pela metade...
Falta pouco, a água é pura, já pela metade, pode acreditar? Meu imperador
A vida nos deu muitos recursos, inclusive a magia de nos amarmos ,perto...longe...perto
Trabalhamos nos mesmos campos de aprendizados, sempre serei a Imperatriz  preferida, a santa e a bandida...
Nossas promessas que ora estavam ancoradas no fundo do mar...vem emergindo lentamente
Sinto aproximar-se a maturidade de nossos espíritos, um presente do velho ancião chamado universo
Hoje foi nosso dia,  uma longa conversa e seremos sempre  os mesmos parceiros , meu  Senhor, meu Imperador, meu eterno amor
Não somos perfeitos, mas somos amigos, somos amantes e cúmplices sempre...
Nos meus pensamentos, que são seus, por que a reciprocidade é muito forte...no silêncio que grita estão guardadas as nossas mais doces palavras e promessas, seus abraços ,seus beijos macios, seu jeito de amar, seu sorriso e seus olhos azuis, meus azuis.

Serei sempre eternamente tua .  

14/01/2015  - Taís Mariano
Janela de Johari

Nasce Ele, soberbo rei da natureza singela
Abrindo sem mistérios as janelas do tempo, da vida
Com seus raios, desmortalha a paisagem cinza
Os matizes das flores e folhagens é visão divina
anunciam mais uma desconhecida primavera,
do alto do morro me sinto uma pequena águia
vendo de cima pessoas, automóveis deslocando-se na auto estrada,
imensa lagoa dos Barros, Litoral, eles vão para a selva de pedra e seus arranha céus cimentados
correm apressados para o formigueiro, o alvoroço da Salgado Filho, a barulheira da Duque de Caxias..., diversão, esquecer as frustrações, comprar sonhos, e após retornam renovados ou vazios, quem saberá dizer?
E eu que faço aqui, nesta estrada de chão batido, nem mesmo sei quem sou ...
Sigo as veias do riacho pedregoso, hoje quero somente o barulho da mata Atlântica ,
tão devastada pela insanidade e pela ambição, desse desconhecido chamado ser humano...
Aqui me sinto caipira, sem sombras e armaduras, meu “eu público” desaparece, foge receoso para não ver a verdade, poucos me decifram e eu pouco a pouco me descubro.
É um prazer passear no campo, parar no velho armazém, tomar uma água gelada do poço, ouvir as toscas conversas dos velhos colonos, aprender a felicidade e a simplicidade do bem viver, tudo tão calmo, tão azul, tão lilás
Ouço mais longe, zum, zuumm , zum... são as abelhas nas flores das pitangueiras, o perfume suave rescende pelo ar, me contagia, os cheiros nos fazem ir além deste mundo
Tem um taquaral numa encruzilhada perto das antenas, que faz um barulho gostoso quando sopra o vento, há uma pedra  redonda e grande, lá fico sentada por alguns minutos refletindo, quantas vidas já vivi em uma só vida, são as etapas ,os altos e baixos da existência, cheia de aprendizados, a maioria doloridos, marcados a ferro quente, outros tão sutis que quando percebemos já transpomos os portais.
Quantos entes já enterrei, me lembro  de todos(as), sinto o cheiro da minha avó, das bolachas caseiras, um dia serei avó e meus netos também passarão por isso? Não sei...
Sigo caminhando na estrada, tão silenciosa, até tirei os calçados, quero sentir a terra nos  meus pés , agora neste momento, somente o canto dos pássaros me acolhe é minha melodia aqui no interior.
Penso, os anos se passam, já vi tantas carapuças voarem ,apenas com um sopro da brisa inesperada, deixando as falsas ovelhas com caras de lobos, também presenciei tantos demônios transformarem-se em santos. 
Não me canso de converter demônios, os meus demônios...
Preciso seguir, ir muito mais além, transpor a encruzilhada, o caminho eu já escolhi e arco com as consequências...
Subo a encosta da montanha, o sol clareia parte da lagoa, ela lê sem censuras o meu íntimo, minhas alegrias, tristezas, paixões, derrotas e conquistas, minhas lágrimas e risos...
Aqui abraço minhas sombras mais terríveis, como um hierofante das causas impossíveis, milagres já os presenciei, nessas minhas andanças...
Tento fugir dos vícios malditos, da malícia que cega, das bebidas funestas, névoas ilusórias, ou seja, qual o nome que se queira dar as paixões carnais que se dissipam apressadamente e deixam cicatrizes na alma.
vim aqui hoje fazer minha colheita, levo deste lugar abençoado muita paz, harmonia e esperança de saber e sentir que apesar de tudo, não me arrependo de minhas escolhas.
E a cada estação que sigo, me conheço um pouco mais, vivendo o presente, ora com medo, ora com coragem, depende do dia, da hora, do estado de espírito...
Conheço os outros, mais do que a mim mesma, eu acho, pois há muitos universos em uma só pessoa.
E aqueles que amei ou ainda amo...e por algum motivo houve afastamento, deixo aqui minha mensagem: este nosso mundo é breve, haverão ainda outros encontros, fora deste Planeta, se for necessário, só sei que o tempo ameniza as dores e nos fortalece fazendo compreender todos os porquês e as dúvidas.
( Leitores: Fazia muito tempo que eu não conseguia mais escrever...voltou a inspiração, até quando não sei... )

(“Janela de Johari - “Numa relação recente, quando dois interlocutores (duas janelas), iniciam o seu primeiro contato, a interação apresenta áreas livres muito reduzidas, áreas cegas relativamente grandes, áreas secretas igualmente extensas e obviamente áreas inconscientes intactas”)


Taís Mariano - Bruma Lilás
Esperança e Fé     ( Orar é preciso)

































Deus aqui, Deus em toda a parte,
em nós, nos animais, na natureza.
A alma não deve estagnar
momentos felizes são repletos de simplicidade
há terrenos movediços, areias com grãos de medos e ilusões
a conexão com o Todo Superior é energia divina
é a providência certa para o fim dos infortúnios
a misericórdia vem na hora que clamamos
dobramos os joelhos e pedimos, com esperança e fé
A caminhada da existência mundana é breve
muito breve, precisamos manter a serenidade
acender a chama do interesse pelos benefícios da caridade
ajudar o próxima , estejamos atuando em qualquer profissão que seja
há sempre uma oportunidade de dar e receber luz
As vezes nem percebemos as trocas maravilhosas de energia
Quando a tristeza e a dúvida vierem a manifestar-se
limpe a mente, são apenas embarcações pequenas
e sem importância, cheias de parasitas assustados, 
que ancoraram em nosso porto seguro e em seguida partirão
para longe, para a escuridão, além mar ... pois nada é para sempre, as tempestades vem e vão  
independente do grau de evolução em que nos encontramos
a escadaria tem muitos degraus e necessitamos percorrê-los sem pressa...
a cada dia, uma nova vida se inicia, subimos alguns degraus.
Tropeçamos, descemos, insistimos
e subimos mais além do que imaginamos nessa escada invisível...
Sabemos dissipar as sombras, está tudo escrito, gravado
no precioso livro do coração,
no poder da luz e da oração que tudo revela.


PAZ E LUZ, HARMONIA , FORÇA  E   FÉ            
Taís Mariano - Bruma lilás 

Uma estação griz





















Sempre desperta uma onda gostosa de frio
os relâmpagos deixam fissuras no horizonte
luz forte reflete no o olhar do céu... cinzento azulado
assim é o exílio no meu paraíso
um entardecer com efeito griz
no ar uma saudade apartada
do lado de fora do balneário, só o breu
muitas andorinhas nascem e renascem
e insistem em permanecer, eu
outras deixam sua alma estampadas
nas ondas agitadas, nas velhas casuarinas...
e os sussurros do coração vem com a ventania
o ar gelado mistura-se à garoa fina
o horizonte protesta em forma de trovão
o entardecer despede-se mais cedo
dando passagem a cor chumbo da longa noite
Corujas andarilhas em seus castelos de areia
são embaladas pelo vento macio
não há silêncio, gritam os sapos nos banhados
é o prenúncio de uma forte chuva
assim se tece um inverno na praia
uma estação griz, sem estrelas
somente a voz misteriosa …
que revela a beleza da simplicidade.

Taís Mariano

Onde está ?



















Onde está  aquele nome ?
O qual não mais mencionamos
A vagar pelas estações do silêncio
Ou estancado em algum cais
O pensamento se agita
Aquele nome não mais aparece, esquece
Cobertor aquece...retalhos
Onde está aquele nome, o verso perdido
O qual não mais mencionamos 
Longe, muito longe
Lá no nevoeiro dos desenganos
Na cidade  deserta, dentro da sua realidade
Não sabe mais
o significado da palavra saudade
Onde está aquele nome?
Não ouço seus sussurros
Onde está?
Na casa, na cama, na rua
Triste ou feliz, talvez com fome...
Habitando no meio do caminho
Nas trilhas da sombra e da luz
Não posso mais alcançá-lo, então
Discreto, olhar vazio, peito deserto
Sufoca os gritos do passado, descansa
Onde está  aquele...?
Contemplando atrás das muralhas
até que as palavras presas na garganta resolvam morrer
Nada mais importa agora
Onde está aquele nome
O qual não mais mencionamos...
Onde... não mencionamos
Não ousamos
Onde está?
Onde?
 05/04/2014 - Taís Mariano
Trem Noturno  -  Estação III

A espera é inquietante...estação três
Um silêncio que faz evaporar as certezas
Noite com muitas nuvens ofuscando o luar
Quadro vazio, vento amornado, sentimento vago
Todos os meus retalhos foram juntados,
texturas  distintas, causando estranheza
diversidade de vivências numa mesma vida...
O tempo fez nascer várias pessoas em meu ser
seria eu uma anônima colecionadora de personalidades?
algumas delas já ameaçadas pelo ambiente, quase sepultadas... 
outras apenas florescendo em cada estação, bem devagar
Sob a superfície das atitudes, um mistério intrínseco
Impressões e repetidas metáforas explicitando o inesperado
A eclosão vulcânica, as batidas do coração, o pulsar das veias
Inexato instante...embarco no trem noturno, estação três
Intensa  escuridão, corredores estreitos, respiração ofegante
Meus temores seriam irracionais...diante de tanta invisibilidade?
Surge um reflexo tímido da  lua nas janelas empoeiradas
Vejo imagens distorcidas, há um abismo entre a percepção física
e o olhar discreto da alma que acorda trêmula
As defesas e ilusões criadas, apenas não  permitem
que se reconheça a imagem em sua totalidade
não posso imaginar como estão me percebendo, se é que estão...
Importaria isso? Pode ser que minha última viagem seja essa...
Na mais completa insipiência, sem saber o destino certo
Há uma melodia original neste vagão sombrio, 
sem intuições, muito menos esperanças
O acaso será o protagonista desta viagem,
Trem noturno, estação três ...

Taís Mariano - Bruma Lilás
Celebrando a harmonia

Na harmonia do entardecer
Caminhamos pelos campos planos
Tingidos de verde claro
Mergulhamos no horizonte azulado
Absorvendo as cores do silêncio
Ao  anoitecer sutil,
 estrelas começam a surgir
o céu torna-se índigo
e a lua reflete segredos na lagoa
uma imensa paz toma conta
da natureza, dos seres, de nossa  alma
A quietude é rompida
Pelo canto dos pássaros
Despertamos para o amanhecer
O sol nasce clareando a paisagem
Sublime como as letras que se unem
para celebrar a  vida.  

Taís Mariano
                                                                                                                                                                 A noite bordou em minha alma ...                                                                                            

Verdades inquietantes
com negros e dourados fios de seda
Se não der para gritar
Melhor sussurrar e sorver as lágrimas
matar a sede nas ondas dos sentimentos
O manto amarelo do sol ao amanhecer,
aquece e faz cessar o pranto
Até o anoitecer cobrir-me com seu lençol
pano índigo de estrelas leitosas
que secam e adoçam os lábios do passado
Ilusão atrevida , não ainda esquecida,
Olhar o horizonte vazio, promessas perdidas
Enganos... as luvas do destino guardadas
nas gavetas tatuadas do coração
as mãos abertas e descobertas,
nos dedos as alianças e anéis apertados
Interpretações desgastadas,
sem mais nevoeiros e temporais
Um tempo...para novos tempos, sem relógios
As cicatrizes, ocultas no pensar distante
Desenha-se ao entardecer, o cenário da vida
Para que esconder um rosto sem pinturas?
As portas estão todas abertas
E as janelas sem cortinas
Seus legados e sentinelas expostos
Loucas marés que vem e vão
uma embarcação que não mais içou as velas
ancorou em porto seguro,
Porque convém meditar as incertezas?
Para que se tenha alguma certeza...
sem mais naufrágios, por ora
Observar o amanhecer e anoitecer
Todos os dias, todas as noites
Eles nunca serão iguais...
O vento soprando algumas frases...
Os cães na areia uivando para a lua
E os barcos aportados esperando
Um sinal para partirem, sem pressa...
Permita o universo, a natureza 
que a brisa noturna, sopre forte seu perfume
imprimindo sua marca na madrugada 
arrebentando certas amarras e fios de seda
invadindo outros portos com seu cheiro
trazendo a paz e o amor  desconhecidos...
carregando para longe o que não for luz
deixando que a noite desça
tecendo novos bordados na alma...

Taís Mariano - Bruma lilás

Infinitamente perdido . . .

Era um homem ocupado demais para viver
Não tinha tempo para conversar
Nunca podia chegar...
Não deixava ninguém se aproximar
Zona de perigo, espaço restrito...
Desdenhou alguns corações iludidos
Pobre criatura sem laços
Não deixava o mundo invadir seus espaços
conversas dispersas, nefastas
Triste em seus cansaços
Mentia para ele mesmo,
infinitamente perdido
Vida mal resolvida
Bajulava a si mesmo
Mascarava os sentimentos
Vaidoso amava seus pedestais
Sua armadura era de sal
Não desejava ser real
perdeu muito tempo,
em suas redomas, enclausurado
tentava consolar-se na noite...
Promessas jogadas ao vento
então um dia a sua sina...ancorou
Partiu para sempre
No silêncio dos túmulos
amargas respostas
O medo de viver
a morte chegou
a terra afundou
Espelho quebrado de desgosto
Desfez-se seu rosto
a morte o levou...

Escuridão dos Rochedos


















A lua surge nas imensas furnas
entre as fendas chicoteadas pela água salgada
os olhos das corujas a espreitar
A maré cheia e o vento gritando
enxurrada de nuvens sufocam o luar
a noite veste a mortalha, a roupa do funeral
mais escura que os breus, que os abissais
uma sequência de raios corta o céu
tempestade se aproxima apressada
Os trovões estouram na negridão das rochas
mar sombrio e enfurecido
Espectros desertores saem das grutas
na tela do terror
a celebrarem a vil atmosfera
entre as ruínas do velho casarão
lá onde a maldição devorou seus habitantes
Gotas grossas de chuva começam a lavar
uma poeira incrustada,
nos cacos das telhas de barro  
como se quisessem limpar a angústia aprisionada na lúgubre aura dos destroços
conheço bem esse lugar
seus demônios, suas almas,
e fantasmas sem sepulturas
todos em busca dos estilhaços das ondas do oceano nos rochedos,
das pétalas escurecidas, de rosas murchas
da noite mais fria e barulhenta
para que possam gemer à vontade
junto com os trovões e a tempestade.

Taís Mariano

Para a data 05 de dezembro, para as três, para Venâncio e as "chaves de Gabriel  (chaves)... Para Jane, para Patrícia, para mim...

"Há triunfos que só se obtém pelo preço da alma, mas a alma é mais preciosa que qualquer triunfo". (Rabindranath Tagore ,primeiro nobel de literatura da India,1913)
Caminho do silêncio - despertar de dezembro II

O silêncio da noite era macio
Como um cobertor de pura lã
Abafando o frio da imensa sala
A ventania quase a cessar
Os pensamentos tropeçando até a morte
A alma aos poucos acalmava o corpo
Entre as nuvens cinzentas
Surgiram as garras da madrugada hostil
cortadas sem dó, pelas navalhas de luz
a energia cósmica queimando a escuridão
manifestando-se mais forte
transmutando tudo em luz violeta
movimentando as folhas e galhos
da árvore frondosa, denominada de universo
O livro da vida a ser escrito
os laços firmados com amor
alianças de paz e a harmonia
numa noite incomum
aquela que nunca, jamais, será esquecida.

 Taís Mariano -Bruma Lilás
    


Chaves internas - Despertar de dezembro


Guardião das chaves do reino interno
Tempo de rupturas e desencontros
necessários para a verdade emergir do silêncio,
do grande vazio que realiza o diálogo ...
medo grita no horizonte azul,
surpresas e decepções,
o mais seguro, porto seguro,
devastado pelo verbo que se fez carne
ondas de energias tão claras
não há mais como esconder
não há sutileza na sujeira do asfalto
todos os véus foram rasgados
mais rapidez a cada noite
novos pedaços de um quebra cabeça
vão se juntando, como se imãs possuíssem
para formarem figuras da realidade ,
não importa quanto tempo viverão
um dia ofuscou, mas o brilho não foi perdido,
tudo serve de ferramenta ao aprendizado,
vida estranha de ciclos e novas etapas
sem equilíbrio, a balança vai pesar
mais para um lado, é preciso esse peso
aprendemos com os desequilíbrios
a imperfeição é só uma tábua
lisa e fina, sem marteladas e sem pregos
grades e gaiolas aprisionam sentimentos
prisão e desconexão entre dois mundos
distância imensurável no entender-agir-pensar,
rebeldia é a arma dos que lutam
cair, levantar tentar mais e mais
agora é a hora, buscar mais
empreender novo caminho
ação e reação, rupturas necessárias
Não temer pelo que vai ser ou parecer
olhar para dentro, para frente,
para os lados e para trás
o passado se distancia
na compreensão do bem e do mal,
tudo se mistura com um piscar de olhos
as cortinas das janelas caem
novos futuros se apresentam
escolhas, tempos de plantios e colheitas,
panos desgastados, levados pelo vento
plantas semimortas varridas pela chuva
quando o sol nascer, haverão novas germinações
sem vendas nos olhos, somente a verdade
sem angustias e nenhuma desconfiança
não existem mais problemas, nunca existiram
somente desafios e lutas, já entendemos
pereceu a concepção ilusória arraigada
estava rachada e solta há muito tempo
o que se cuidou para que não rompesse
desvirginou-se, paradigmas ultrapassados
lágrima necessária a verter, alívio sutil
mais clareza para compreender e merecer...
o oásis que a própria alma preserva
e esconde no templo do inconsciente
onde habita um grande arquiteto
vigia do nosso universo interminável
que detém o poder de ser mais forte que os medos
a vontade transforma-se na fortaleza contra os eles
são eles, os medos, os piores inimigos de ser humano
que aterrorizam a consciência torturada 
tudo tem sua hora para frutificar
a inércia e as mentiras são esmagadas
a sabedoria brota no coração já sem esperança
acalentado pela invisibilidade mais visível...
o guardião das chaves do reino interno. 


2013 - Taís Mariano

Guerreira contra as sombras  (quase uma oração)

Sou alma  do passado, uma Guerreira
Caçadora de más emoções
Hoje sou sua algoz
Sou de paz, quase lilás, mas sei ser feroz!
É para vocês que se escondem
Espíritos imundos
A vagarem pela noite
Capto a todos, com minhas preces
 agora sou seus açoites, pela força da luz
Vão logo!
Almas covardes e infecundas
Vivem à sombra do  mundo
Voltem para os charcos do umbral
Pedaços de todo o mal
Vão para os açudes lamacentos,
viver com as sanguessugas
Arrastam-se desesperadas, no silêncio da obscuridade
Causam sofrimentos, com inverdades.
Maus elementos, criaturas de mau agouro
Resta-lhes a Torre de Babel
São os Filhos de Gezebel
Vão logo
Rastejando até agonizar de cansaço
Vis orgulhos
Sombra de criaturas hostis
Criam suas falsas espertezas
Infelizmente, ainda arrebatarão outras presas
Vão para suas costumeiras guerras
Aqui não é a sua Terra
Existências de trevas
Vão logo
Macilentas e frias, corações vazios
Vão para bem longe
Sangues fracos...são dejetos, restos
Vão logo
Estou a lhes caçar, faz tempo...
Fiquem assim diluídas, a vagar
Não ousem se aproximar
Suas más intenções, todo a noite eu embaraço
Amarro agora seus peitos manchados e sem aços
Vão logo!
Espectros cruéis e apavorantes
Antes da sétima estrada
Ao cair da madrugada
Encontrarão uma figura alada
Tudo que se faz aqui!
Se paga logo ali!
Vão logo!
Carmas ruins
Se afastem ou terão seu fim
Não brinquem mais com almas puras
É a luz de Deus que lhes esconjura!
           .   .   .

Que assim seja, e assim será, pelo sangue que Cristo derramou na cruz por seus amados filhos!
 Amém, Amém e Amém !!!


Reeditado hoje - 2013 ( escrito em 20 de agosto de 2009 – Bruma Lilás- Taís –  obs. não escrevo por escrever...escrevo por necessidade...)

Ensaio sobre a paixão

Paixão rima com ilusão
caminhando no fio da navalha
entre a névoa, até tombarmos
O tempo bate a porta
sorrateiro, caçoando de nós
simples mortais imaturos
o corpo ainda sente
os olhos fantasiam a realidade mascarada
somente fantoches dos sentimentos
as paixões acabam no escuro
perdidas em prantos convulsivos
amargos e salgados
são pontos de interrogações monstruosos
e uma resposta que se esconde
nunca chega ao seu destino
Perguntas solitárias e desesperadas
Um silêncio insano, pintado de dúvidas
a venda imensa nos olhos
alma girando e sussurrando...
no balé das incertezas.


Taís Mariano- Bruma Lilás

Ensaio sobre o sentimento


Um suspiro profundo
carregado de emoção
será tristeza ou alegria?
Vento tênue que transpassa a alma
na constância da respiração
O suspiro das chegadas
o sussurro das partidas,
um coração e suas linguagens
As feições dum vaivém no dia a dia
Olhos marejados, vividos momentos
sal da lágrima que escorre...
a lavar a face acinzentada pela poeira
Convulsão dos sentimentos
Risos soltos, revelando os compassos
desnudando ambientes silenciosos
A junção das estações, fogo e gelo
num rodízio do existir
No ensaio dos sentimentos .     Taís Mariano  - Bruma Lilás
Quinto Arcano

Meus olhos postos com serenidade
Fixados na quietude das árvores,
Neste dia ensolarado,
Luz de hierofante
Conduz-me aos teus castanhos
Olhos da maturidade, que refrigera
meu horizonte esverdeado
revelando a ponte que nos liga
com a quintessência da iluminação
És o quinto arcano
A sombra prateada, larga e macia
Que habita meus pensamentos, hoje
O mediador da paz curativa
Que destila o  elemento alquímico na terra
Acariciou minha alma  cansada
Emanando a força sutil
que cristalizou corpo e espírito
equilíbrio  das incertezas
pela dor...um verdadeiro amor...

Não sustentaremos esse sentimento...
apenas com versos  e névoas de  ilusão
as letras de sangue estão coaguladas
atrofiaram-se os rituais de imposição
de um passado insípido
A certeza da  descoberta
A suavidade instalou-se
no tempo presente
nas mais puras emoções
desabrochadas naquele instante atemporal
Meu nome refletido em teus olhos
Caminha pelas tuas mãos
Percorre teus  longos dedos, tua ação
Teu nome desliza em minhas veias
Queimando de emoção
Mãos de hierofante falando mais que
mil palavras do tolo passado
Não preciso mais fechar os olhos
para sonhar... encontrei a direção
Com a  cura, os sofrimentos sucumbiram
Os grilhões arrebentaram pelo divino aborto
A morte de  um pretérito imperfeito
composto de períodos de mentiras
Percebo a felicidade na simplicidade
No hierofante , meu quinto arcano

Depois de uma forte dor,
de desespero e  escuridão
Chega o alívio inesperado
Compreendo que a cruz que carreguei
tratava-se de uma antena cósmica
que iria me conectar  com a verdadeira cura
A presença de  um quinto arcano   

por Taís Mariano
Divino aborto

Após gestar por alguns anos
Eis que é expelida a ilusão
pelo necessário aborto divino
nos últimos meses agonizava,
já em estágio terminal
ilusão estrangulada
num útero enfraquecido pela verdade
luz tênue da lamparina à querosene
O reinado findo do último rei de eugnas
das tradições do caminho da mão esquerda
sem trono e súditos, avessas promessas
um discurso forçado, despedida...
escrito em letras de sangue (ou eugnas)
rasgou-se o pergaminho, sem novos testamentos
O circo das aberrações afundou-se na lama
por força da conspiração da luz misteriosa
A alma cansada da tirania
emigra enferma... devagar  para a luz
A passagem árdua foi feita com muita dor
até chegar ofegante ao outro lado...
rastejando para as fontes multicoloridas
A noite cai, na madrugada fria,
bem próximo ao umbral
o mensageiro leva a notícia
Falência múltipla do eugnas,
rei  desmascarado, obrigado a partir em retirada
pequena carta, narrando o duelo e o exílio do algoz
da loucura à lucidez, fim do martírio do sal
Vento soprando em fortes tons de esperança
Liberdade celibatária, navegando em alto mar
Cegada pela luz divina, até alcançar a terra
Feridas clandestinas à espera de cura
Desencantamento, tristeza, espanto, queimor
Suores e febres contínuas
A doença materializada como antídoto do mal
e a torrente de sangue derramada,
contida depois, cessada pelo horizonte de possibilidades
A paz discreta e silenciosa da divisa  desconhecida
O outro lado, um sacerdote da época remota
O estágio inicial do renascer da mais pura intimidade
Desnudada, florescida na verdade pelo sagrado sofrimento ,
despida do medo desprezível, que agora habita o eterno limbo,
Flor prematura, salva, dançando a felicidade
entre raízes e troncos, no vibrante marrom castanho, da terra mãe
vastas fileiras de plátanos e araucárias, longe do oceano azul
falso azul que ofuscou o verde esmeralda dos morros, tão próximos...
A bênção do atual destino inexorável, perto do guardião da vida e do bem
Acolhida pelo amor dos desconhecidos pássaros selvagens
deitada em brancos lençóis, sentindo o perfume da brisa etérea
no crepúsculo de um novo mundo ... 

“Fiat voluntas tua
ed liberanos a malo”
Minha doença ... foi minha cura ...   Taís Mariano

  
    
Gotas de orvalho

Quisera eu ter o dom
de decifrar seu semblante...tão azul
Porém receio que os mistérios da alma
são revelados em gotas
minúsculas gotas do orvalho
das madrugadas insones
que instalam reticências no pensar
e insistem em mostrar que há muito mais
existências que brotam de sementes
plantadas num passado bem distante   
para florescer numa primavera iluminada
pela força do universo infinito

2013