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domingo, 25 de julho de 2010

terça-feira, 13 de julho de 2010

A NOIVA DE AGOSTO



A NOIVA DE AGOSTO

Diz o velho ditado popular que agosto é o mês do desgosto, e para ela, a noiva, foi mesmo.
Era um dia muito frio, chovia, contudo era nesse dia que a noiva firmaria sua aliança, ao anoitecer.
O dia se arrastou e com muito custo caiu a noite, então ela se preparou e iluminou o ambiente para esperar seu amor.
As horas foram passando e nenhum sinal dele, a rua estava cada vez mais deserta, muita água descia do céu, fazia um frio de cortar a alma.
Justamente na noite de sua aliança se concretizar, veio uma forte tempestade e perdeu-se o véu – ao vento da desilusão, só alcançou o lamento da triste solidão, numa noite de agonia.
Sua alma estava inquieta, a caminhar, sem parar, desatino de uma noiva sem par.
Nos seus olhos um brilho molhado, muitas lágrimas deles começaram a brotar.
As horas a passar, lentas, como tartarugas preguiçosas, ela sentou-se aflita ao redor da mesa, refletiu...levantou, saiu pela porta da frente, andou pela chuva fria a suspirar, os minutos entediantes a passar, e ela ainda esperançosa de ele chegar, a cada barulho uma emoção, batia mais forte seu coração, e nada...
Ela cansou-se, foi despindo-se de seus brilhos, guardando os colares, pulseiras e anéis, tirou os sapatos, calçou um chinelo, depois deitou-se na cama vazia...não queria acreditar no que o seu íntimo temia que fosse acontecer, pressentiu então o pior, o noivo não apareceu, desistiu? Fugiu...nem sequer a avisou!!!
A pobre noiva infeliz, ficou tão desconcertada que não conseguia nem mais chorar, paralisaram-se suas emoções. A canção que ela escutava, por ora, petrificou seu coração, não entendia e não sabia do rastro do rapaz, que se foi, sumiu, talvez no mar, no ar, por terra ou no tempo...nada soube...
Pálida e suando frio, ela olhava-se no espelho, que estava vermelho de tanto sangrar...não queria acreditar. Toda sua vida se refletiu naquele velho espelho, manchado, machucado... O olhar da noiva estava parado, vidrado, seu corpo imóvel.
No silêncio imortal daquela noite de chuva e frio, viu sua paixão desfalecendo, aos poucos morrendo...
Seu pequenino corpo estava tremendo, em choque, que dor agressiva, dor terrível, dor de alma magoada, foi atingida por uma flecha envenenada.
Aquela noite da quebra de aliança, ficará marcada para sempre em suas memórias e as outras gerações contará sua estória...o dia do encontro marcado, não realizado, dissabores e desventuras...um amor que se desfez.
A noiva quase morreu naquela noite de agosto, fria como o sentimento do noivo, que nunca mais apareceu, mas passados alguns meses surgiu uma luz dourada do céu, que fez com que ela fosse reagindo e encontrando novamente a sua paz, reencontrou também a alegria e descobriu a proteção divina, Num sonho, ela viu a luz dourada transformar-se em um anjo iluminado que lhe entregou a aliança do amor universal.
E a vida continuou, tudo serviu de lição, quem pode entender os caminhos que se desencontram, os mistérios pertencem a VIDA.
E o noivo? Ela o viu várias vezes, usando máscaras, e o reconheceu pelos cheiros que exalava ...Cheiro de cemitério em dia de calor, cheiro de mofo no tomate e até cheiro de falsidade, sim, falsidade tem cheiro !
E o noivo? Sumiu , fugiu, escondeu-se, morreu de medo, morreu de vergonha, morreu a cada ano, em agosto, definhou escondido, comido pelos vermes das lembranças, cheirando o pó da ilusão,  e enfim morreu ! Enterrou-se nos jazigos lúgubres da covardia de uma alma cheia de esconderijos...


“Um brinde ao sangue fraco ,
ergo uma taça de fel em irreverência
ao mês de agosto”
                                Mavat Airady


sexta-feira, 2 de julho de 2010

O LOBO E A GAIVOTA


O LOBO E A GAIVOTA


O mar de outono é triste, a praia deserta, onde nem os relógios de areia funcionam, o tempo parece ter adormecido para sempre.
A paisagem transmite infinita solidão, somente algumas gaivotas voando pelas ondas e sobre as casas velhas da encosta e alguns cachorros perdidos.
De longe avisto uma sombra incomum a minha tela, ao me aproximar lentamente, vou definindo a silhueta de um homem, virado para o mar, com os olhos fixos no horizonte, como se ele estivesse meditando.
Vou caminhando pela areia, o sol fraco já está se escondendo e o homem vem em minha direção, inicialmente sinto um pouco de medo , mas ele sorri e nos aproximamos mais, conversamos um pouco e cada um segue seu destino.
Estou de férias, vou me refugiar em uma das casas que foi de meu avô, ele está instalado há cinco quadras de minha casa, percebi que ele não é nativo, porém me contou que está há um ano residindo nesse lugar.
Antes dele decidir morar no Porto da Solidão, essa calma prainha, vivia numa selva de pedra, mergulhado no desespero de estar cercado por muitas pessoas e sentindo-se só .
Viveu à beira de um escuro desfiladeiro, precisava de uma mudança instantânea em sua vida, oportunidades surgiram e ele aportou nessa praia, tão única, tão simples e tão tranquila.
Chegou ao ponto de sentir-se estranho com ele mesmo, os talismãs que definiam sua identidade, transformaram-se em fetiches adversos, sua esperança de vida quase morreu em atos de absoluta negação.
Perdeu toda sua família em um trágico acidente e desde então não via mais cor, em nada, um mundo totalmente em ruínas.
Ao chegar à praia deixou para trás sua mochila de desilusões e sofrimentos e acreditou em uma nova vida, um ano se passou e ele já estava entrosado com as pessoas da vila e era respeitado por todos, seu trabalho envolvia pesquisas marítimas, era um oceanólogo muito dedicado.
Lobo do mar era como o chamavam, pois era uma pessoa solitária e que inspirava muita proteção e amor à natureza.
Naquele ano das minhas férias, ficamos amigos e de nossa amizade surgiu uma grande paixão, com o tempo, vim para o Porto da Solidão para residir com ele definitivamente.
De um encontro casual, numa tarde feia de outono nasceu um grande amor entre o um Lobo do Mar e uma Gaivota Dourada, é como nos conhecem aqui. Esta é a nossa história de vida, por isso nunca desista de seus sonhos e quando estiveres infeliz pense que tudo passa, um dia nunca é igual ao outro.